Feminismo: a radicalização desgastou o conceito



No início, o feminismo foi um veículo para batalhas muito relevantes.
          
No entanto, essa palavra foi muito desgastada nos tempos mais atuais. Hoje ela também é veículo para ideias radicais e reducionistas, como mansplaining, estímulos à censura ou os exageros do politicamente correto.
             
Por exemplo, recentemente teve o caso do profissional que foi demitido do Google por ousar enunciar declarações perfeitamente razoáveis sobre diferenças biológicas estatísticas entre homens e mulheres.
 

Assim quando alguém hoje usa a palavra “feminismo”, quase todas as pessoas não engajadas no movimento a associam, até erradamente, a essas ideias mais extremadas.

Isso vale também para aqueles que combatem o feminismo como um todo, mesmo nos seus aspectos mais razoáveis.

Muitos são machistas mal disfarçados que generalizam pelo outro lado e terminam arremessando no rótulo “feminismo” toda e qualquer ideia que defenda a mulher. Ou seja, o razoável e o absurdo ficam tudo na mesma caixa das coisas ridículas.

Em suma, feminismo: ame-o ou odeie-o.

Tal filosofia é mais um dos inúmeros exemplos que terminam caindo no velho vício que tem acometido muitas pessoas: A questão do binarismo. Ou algo é totalmente certo ou totalmente errado. Alguém que adota o meio termo hoje termina recebendo flechada de ambos os lados. 


Os conceitos valem muito mais do que um mero rótulo. Afinal, o que é ser feminista e o que é se simpatizar com algumas das causas feministas? É preciso detalhar.  Meros rótulos não dizem nada! Outro sério problema é embalar ideias e conceitos em blocos ou vínculos. O mais comum é supor que aquele que defende ideias feministas necessariamente tem que ser de esquerda e vice-versa.

Só que o cérebro humano é muito complexo para ter que adotar um arcabouço ideológico como um bloco monolítico.

A palavra foi deformada demais pela prática de certas facções do movimento. Como usual, os bons pagam pelos maus. Portanto, há uma questão inconsciente, que não podemos controlar. A palavra feminismo remete logo ao seu pior lado, para muitos.

Infelizmente, não há outra palavra que a substitua adequadamente e abranja a constelação de problemas que a mulher enfrente na maioria das sociedades.
 

Por exemplo, é preciso combater o assédio, particularmente quando se dá de uma pessoa que detém poder sobre outra. No entanto, o enfoque não pode ser tão simplista. Afinal, existe assédio no sentido oposto (ainda que seja menos comum) e existe uma diferença subjetiva entre assédio e paquera. Algumas feministas esticam tanto o conceito de assédio, que, pela conceituação delas, seria impossível que 2 desconhecidos se conhecessem na praia, no trabalho, no bar ou na boate.

Também existe o problema da falta de acesso das mulheres a cargos de chefia, mas nada que se resolva hoje em dia com cotas ou passeatas. É uma questão complexa e de evolução lenta.

Assim, em cada ponto e no geral, só nos resta esclarecer para evitar ser mal interpretado.

Eu, por exemplo, não sou “feminista”, mas defendo “algumas das ideias feministas”. É verboso. São 4 palavras no lugar do 2. É o preço que se paga ao se deparar por uma palavra tão desgastada como “feminista”.

Sei que é um tipo de preconceito, mas que virou praticamente mainstream.

Ninguém mais pode falar a palavra “feminismo” sem evocar segmentos que não necessariamente são atados à palavra.
   
É ruim que a palavra feminista esteja tão desgastada, mas é difícil lutar contra fatos inexoráveis.

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