Vegas: armas sem limites, licenças ou registros.

            Nesse trecho de filme, Arnold vai às compras.

Muitos irão usar o atentado de ontem em Las Vegas para provar suas teses sociológicas. Não é exatamente o meu caso, são só algumas reflexões. Conclusões definitivas não são fáceis de tirar. Minha posição, como usual, é intermediária. Não defendo nem o desarmamento irrestrito nem o armamento irrestrito.


Nos EUA, na maioria dos estados, alguém  pode possuir quase qualquer tipo de arma. As armas que possuem restrição em alguns  estados são as armas
abrangidas pela  NFA (National Firearms Act), incluindo as automáticas. 

Essa restrição parcial, que em muitos estados implicam em um registro federal da arma, incluem silenciadores, rifles de cano curto (SBR), espingardas de cano curto (SBS), dispositivos de destruição (granadas, minas, etc.), armas automáticas e outras.

Nas armas
automáticas não é sequer preciso apertar o gatilho. No entanto, existem semiautomáticas que chegam a disparar até 180 balas por minuto, mas usando o gatilho. As armas semiautomáticas não têm qualquer tipo de restrição na maioria dos estados norte-americanos, exceto o registro federal na ATF.
Há de se convir que isso vai muito além de quase qualquer objetivo de autodefesa.

No estado de Nevada, local do atentado de ontem,  não tem sequer o conceito de registro de armas ou licença dentro do estado, mas as armas incluídas na rubrica da NFA tem registro federal a um custo de 200 dólares. Rifles de assalto, do estilo usado no atentado, podem ser levados de carro, mas não de forma oculta, exceto se o motorista tem uma licença especial.


No caso de armas automáticas (machine guns), existe um registro federal, mesmo em Nevada e civis só podem portá-la se fabricadas antes de 1986. Ainda não se sabe, se as armas usadas no atentado eram semiautomáticas ou automáticas.


Aqui tem uma pegadinha. Dentro do universo  das armas semiautomáticas, existem armas ainda mais poderosas que as armas regulamentadas pela NFA, que não são alvo dessa lei restritiva:

                 
"Um rifle é uma arma de fogo com um comprimento de cano superior a 16 polegadas. Um Short Rillle Barreled (SBR) é um rifle com um barril com menos de 16 polegadas. Um SBR é menos eficaz do que um rifle, mas é mais eficaz do que uma arma de mão para autodefesa. Também é mais eficiente para atravessar quartos próximos para limpar uma ameaça do seu local de residência, como um ladrão, etc. A partir de agora, você pode comprar um rifle com cano dobrável que é, na maioria dos casos , menor em todo o comprimento do que um SBR. A necessidade de registrar um SBR (Short Barreled Shotgun) é injustificada e o requisito deveria ser removido."
                            
Em suma, Rambos e Exterminadores do Futuro podem se sentir em casa.
Qualquer maluco  pode iniciar uma carnificina em um lugar público sem muita burocracia. Em Nevada, não há registro estadual, então há mais dificuldade da polícia rastrear a origem da arma.
Só em novembro de 2016 é que passou a ser checado se um condenado pela justiça está tentando comprar uma arma.

Eu sei que, como muitas pessoas sempre dizem, armas não matam, são as pessoas que as empunham que fazem isso. Também sei que é preciso um louco para fazer o que o cara fez ontem em Vegas, mas o mesmo vale para a bomba atômica ou armas químicas. À vera, é apenas um mero argumento retórico. Sem pessoas, não haveria nem esse artigo.

Assim, não há como negar que  em Nevada
é  muito  fácil um louco se armar como Arnold Schwarzenegger em um dos seus filmes, sem que jamais seja feita qualquer pergunta para ele.

                    

                    
No caso, foi preciso que o autor do atentado encontrasse uma maneira de ir acumulando armas e munições no quarto, uma vez que o resort Mandalay Bay não permite armas dentro da propriedade. Esse ponto ainda não foi esclarecido. No entanto, o sistema de segurança de entrada nos hotéis de Las Vegas, por experiência própria, em geral, é muito fraco. Na prática, não deve ter sido uma tarefa difícil para o assassino.
          

             
Não sou contra que se possa comprar armas, dentro de certos limites e controles. Só não quero que um cara possa comprar AR15 (torradeira de gente) em megastores de armas, como se fosse uma torradeira de cozinha, fato que acontece em alguns lugares dos EUA.

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