Crivella: Carnaval é um pecado Universal


A decisão repentina do prefeito carioca Marcelo Crivella de cortar 50% da subvenção do desfile de Carnaval do Rio para 2018 é péssima, em vários sentidos.

1) Por mais que ele negue, a decisão é claramente relacionada à ideologia da Igreja Universal, que condena o Carnaval, festa eminentemente pagã. Crivella tanto como Ministro da Pesca da Dilma, como agora como prefeito do Rio, nomeou vários próceres da Igreja Universal.

Um exemplo mais recente, para ilustrar o vínculo do Crivella com a Universal
foi a nomeação  do bispo Jorge Braz de Oliveira como presidente do Procon, sendo que ele 0 de experiência no assunto.

Nos 12 anos dele como vereador, ele sugeriu 8 projetos de lei,  quatro deles relacionados a temas religiosos, como a inclusão do Dia do Obreiro Evangélico, criação do Dia dos Grupos de Jovens Evangélicos; o que homenageia um dos fundadores da Igreja Universal como  nome de uma rua e o que autoriza o acesso de religiosos em hospitais da rede pública ou privada para prestarem assistência religiosa aos pacientes.

Apenas um dos projetos tem relação direta com consumidores: o que obriga o fornecimento gratuito de café após as refeições em bares e restaurantes, o que é mais um primor de intervencionismo estatal, que acabou sendo arquivado em janeiro desse ano. 



                                  Crivella com o seu tio Edir Macedo, líder da Igreja Universal.

2) A sua linha argumentativa para justificar sua decisão passa por uma chantagem emocional, criando uma falsa vinculação entre a diminuição das subvenções do Carnaval a um novo dinheiro que entraria para as creches, ignorando o aumento de arrecadação do município em ISS ligado ao aumento do influxo turístico decorrente da fama e da suntuosidade do desfile das escolas de Samba no Rio.

3) Ele ignora o inegável efeito indutor do turismo, que representa 9,8% do PIB mundial, direta ou indiretamente, lembrando que o desfile das escolas de samba no Rio é mundialmente consagrado, como a festa da Rainha na Holanda, a Oktoberfest na Alemanha, o Ano Novo em Nova Iorque,  a peregrinação de Santiago de Compostela na Espanha, etc.

4) Foi uma medida brusca e não negociada com as partes, o que mostra autoritarismo e falta de diálogo. A consequência disso é que a busca de salvaguardas pelas Escolas de Samba terá que ser acelerada e atabalhoada. Não estou dizendo que não haja corrupção da LIESA e mau uso dos recursos públicos. De fato, a receita para as escolas (R$ 24 milhões) dobrou em 2016 e 2017 por conta da falência do estado, mas representa 0,3% do orçamento anual do município do Rio.

5) Se ele fosse o João Dória, provavelmente teria negociado esquemas de patrocínio com empresas privadas e acabaria, no final, podendo fazer o mesmo Carnaval, sem um centavo de dinheiro público. Evidentemente, o uso dos recursos acabariam sendo muito melhor fiscalizados.

Apoie-se ou não a gestão de João Dória em São Paulo, é preciso admitir que ele é mais criativo, midiático, ousado e dinâmico do que o Marcelo Crivella, que é um fantasma que emerge só de quando em quando, em função de alguma polêmica.

6) Não nego que haja excessiva comercialização dos desfiles. Ela é apenas inevitável.  Não dá para mudar isso. Tudo termina virando comércio. Até a contracultura hippie foi industrializada. Apenas aceitemos isso, como a gravidade.




Em tudo existe uma inércia. Subsídios são como um vício em drogas. Se você tira a droga toda de uma vez, acontece uma crise de abstinência. Dinheiro público em eventos é, de fato,  uma forma tola de se gastar dinheiro público, uma vez que existem condições de se conseguir que a iniciativa privada banque esse tipo de evento, tendo em vista a exposição da marca.

 

Crivella na prefeitura do Rio parece ausente, umbilicalmente ligado à Igreja nas nomeações e todo o resto e fraco de raciocínio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ciro: Desconstruindo lendas

Sempre se diz por aí que o desempenho de Ciro no governo do Ceará no período 1991–1994 foi excepcional. De fato, foi um bom governo,...