Ditadura no Brasil: Atoleiro Econômico


Fico espantado em ver gente tão saudosa da Ditadura.  Algumas dessas pessoas nem viveram na época! Que memória distorcida nós temos sobre o nosso passado! As pessoas enxergam um paraíso que não existiu.

A verdade é mais parecida com o atoleiro da foto acima, tirada no canteiro de obras da Transamazônica.

A maioria dessas pessoas está com Bolsonaro para as eleições presidenciais de 2018, identificado  como o cavaleiro (não tão garboso) que iria trazer as luzes desse período de "glória", que teria sido a Ditadura no Brasil.

Sendo assim, decidi  escrever um artigo com várias partes. 


A primeira parte (essa) irá versar sobre Economia e Corrupção, que são intimamente associadas.

Entre 1968 e 1973.o país cresceu cerca de 10% ao ano, e atingiu, em 1973, um crescimento de 14%. A inflação reduziu de 25,5% para 15,6% no período.

Houve também um boom semelhante em parte do tempo do PT, até a vida cobrar sua conta. O período de 2003 a 2010 foi divino, que refletiu, com algum deslocamento no tempo, a aceleração mundial que fez o planeta crescer a uma taxa média de mais de 5% ao ano com as commodities chegando às alturas.

Tudo isso era cunhado como política Keynesiana pura,  embora o uso vão do nome desse brilhante economista deve fazer ele se revirar no túmulo. Nunca um conjunto de ideias foi tão distorcido, no afã de dar um cunho teórico a ideias que não fazem sentido.

Durante algum tempo funciona, se as condições forem favoráveis. Forçando um pouco a barra, dá para comparar esse período com o boom imobiliário nos EUA até 2007, a explosão dos preços das tulipas na Holanda do século XVII  e os investimentos do malfadado golpista Bernard Madoff.

Parecia que tudo ia de vento em popa, mas é bom salientar que, mesmo nessa época, houve  um grande achatamento salarial, já que havia uma mordaça sobre quaisquer reivindicações salariais . Ou seja, o crescimento estava sendo acompanhado de um  crescimento notável da desigualdade quando medido pelo índice GINI. No entanto, é lógico que se essa maré continuasse, iria  no final sobrar  para todos (mais para uns do que para outros, é bem verdade).     


Endividamento sucessivo não deixa de ser um tipo de pirâmide. Enquanto se tem crédito e se consegue fazer novos empréstimos, vive-se muito bem! Bem, pelo menos, no caso do Brasil, os privilegiados e apadrinhados pelo regime.   

O angu iria desandar. Um ciclo virtuoso de endividamento não dura para sempre. Estava se gastando muito mais do que se podia e, em 1973, com a crise do Petróleo, que, como a crise de 2008 muitos anos depois, demorou um pouco para aterrissar por aqui, só que, quando chegou, veio com vontade.

O governo se recusou a botar o pé no freio. Keynes, Keynes, Keynes.  E ele volta a se lamuriar da leviandade de associá-lo a tudo que é ideia ruim.


Com a gastança e a crise se sucedendo, o endividamento, especialmente o externo, explodiu.  Aí veio o Geisel, com seus PNDs (Planos Nacionais de Desenvolvimento) para tentar agir de forma anticíclica.  Isso tudo lembra algo? Sim! Os governos do PT e seus PACs (Planos de Aceleração do Crescimento). Não é por acaso que Delfim Netto ficou tão próximo ao PT.

Na época, também de forma estranhamente parecida com a era PT, havia também as empresas eleitas, só que o BNDES na época era apenas BNDE.  Faltava então o S de Social no nome.

O Brasil foi forçado então a decretar moratória já em 1982/1983, pela primeira vez desde 1937, na implantação do Estado Novo por Getúlio Vargas. Ela voltaria a ser acionada em 1987 pelo José Sarney, pela última vez no Brasil, até agora.

Quero deixar claro que Moratória é um evento econômico muito mais impactante do que a vã imaginação dos leitores pode conceber. Significa default e falência, não é nada similar a uma Recuperação Judicial. Os agentes financeiros internacionais só aceitam dinheiro, o que obriga a maquininha de fazer dinheiro funcionar (ou seja, inflação). Fora isso, o  país fica mercê de tubarões, que seria o equivalente do que representam os agiotas para um indivíduo em maus lençóis.

Quando os militares deixaram o poder no final de 1984, a dívida representava 54% do PIB, quase quatro vezes maior do que na época que eles tomaram o poder em 1964, quando o valor da dívida era de 15,7% do PIB. A inflação, por sua vez, chegou a 223%, em 1985.

Essa orgia inflacionária foi tão longe, que só teve fim em 1994  a partir do Plano Real, com rápidas tréguas dos fracassados e temerários Planos  Cruzado (1986) e Collor (1990).

Ou seja, diferente do cruel ditador Pinochet e seus Chicago Boys, que praticaram, pelo menos, sensatez econômica,  a Ditadura aqui era estatista, desenvolvimentista e intervencionista (como nosso não saudoso PT).

Veja que quando o Chile se refez de um período insano de torturas e desmandos (muito pior do que no Brasil) que sucedeu ao desastrado governo socialista de Salvador Allende, ele terminou em situação muito melhor do que o Brasil, já que está na confortável posição de país mais desenvolvido da América Latina.

Ou seja, os militares praticaram aqui tudo o contrário o que ordena a cartilha de liberdade econômica mesclada com social-democracia, adotada por grande parte da Europa, Oceania, Canadá e EUA

Quando à Corrupção, a Ditadura não escancarava seus podres porque não tinha imprensa livre. Quem viveu na época, cansou de ver jornais com receitas de cozinha, poesias de Camões, ou mesmo, espaços em branco.

A Corrupção não fica exposta nas suas entranhas como hoje, que temos uma imprensa relativamente livre.     


Houve grandes obras inegavelmente: Transamazônica, Itaipu, Tucuruí, Angra, Ferrovia do Aço e Ponte Rio-Niterói.

Bem, tudo isso debaixo de insondáveis mistérios, só que há muitos fatos.

Até a década de 1960, as obras da Odebrecht mal ultrapassavam os limites da Bahia. Com o protecionismo de Costa e Silva,ela construi a icônica sede da Petrobras, no Rio, depois o aeroporto do Galeão e a usina nuclear de Angra. Assim, de 19ª empreiteira de maior faturamento, em 1971, pulou para a 3ª em 1973, e nunca mais deixou o top 10. Outra beneficiada foi a Andrade Gutierrez, que saltou do 11º para o 4º lugar de 1971 para 1972.

Esse artigo da Revista Veja de 1987, em pleno governo Sarney, escancara todo essa passado com incrível clareza.

Vamos aqui comentar aqui apenas 3 dessas obras.

Transamazônica:  Bem, essa não precisa nem pesquisar. Não ligava nada a lugar nenhum e foi abandonada. Esse vídeo conta um pouco dessa história.


Usina de Itaipu: Bem, fala-se que o PT foi pai da Venezuela com os empréstimos do BNDES e outras benesses? Pois é. O mesmo aconteceu com o Paraguai na Ditadura no tempo do ditador Augusto Stroessner. No tratado assinado  em 1973, o Brasil se comprometia a arcar com todos os custos. Em troca o Paraguai seria sócio e sua dívida, amortizada num período de 50 anos, não seria paga em dinheiro. Seria pago em energia. Um negócio de pai para filho. As maravilhosas  7 Quedas foram soterradas por uma inundação gigantesca.

Teria sido muito mais inteligente fazer 2 usinas menores mais à jusante do rio. Teríamos mais energia, não teríamos a parceria com o Paraguai e teríamos inundado uma área menor e as 7 Quedas ainda estariam aqui para iluminar nossos olhos.

Ponte Rio Niterói: Veja essa matéria que escrevi contendo um estudo de custeio da famosa ponte.    
       

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Há muitas fontes que o leitor mais curioso poderá explorar nesse artigo se ele tiver interesse de questionar suas verdades e entender as estranhas similaridades, embora com retóricas opostas, entre a política econômica do governo militar, particularmente depois de 1973, com as políticas do período PT (2003-2016).

Nenhuma dessas fontes foi baseada em alguma mídia petista porque absolutamente não confio nos seus critérios jornalísticos.

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